segunda-feira, 26 de janeiro de 2015

"Quero que todos os guardenses andem com o guia do investidor", Jornal de Negócios

Disse-o Álvaro Amaro em entrevista ao Jornal de Negócios disponível aqui (só disponível para assinantes). Sugiro que se vá mais longe ainda: o guia do investidor deve estar à cabeceira da cama e na casa de banho de todos os Guardenses.

Como não o recebi ainda, deve estar num daqueles emails sem resposta que enviei para a Câmara Municipal e para os SMAS, pergunto: inclui porventura esse guia algum capítulo sobre tratamento de efluentes e responsabilidade ambiental das empresas?

sexta-feira, 23 de janeiro de 2015

"Na Guarda ainda se lavam e penteiam lãs", in Jornal de Negócios

O título é retirado de uma notícia da edição de 19 de Janeiro de 2015 do Jornal de Negócios (notícia completa aqui). Não tive acesso à edição impressa, mas dado que inclui uma entrevista com o presidente da autarquia e outros artigos sobre empresas da Guarda, fiquei sem perceber se se tratava de publicidade paga ou alguma secção dedicada à Guarda. 

Todo o artigo é desenvolvido à volta dos sucessos da empresa e portanto não percebo as referências aos impactos ambientais da sua actividade. Se era para explorar esse tópico teria de ser mais desenvolvido (e de outra forma). Não tendo sido feito ficou a ideia de ter sido metido ali a martelo. Por outro lado, fazer o elogio de empresas por fazerem o que a lei obriga (será mesmo?), não é digno de louvor, pois não fazem mais que a sua obrigação - quem produz resíduos deve tratá-los.

Ficam algumas passagens comentadas:

"O cheiro não engana" lê-se. 
Terá a jornalista passado nas imediações do rio Noéme em dia de descarga poluente?

"A lavagem de lãs é uma actividade que causa problemas ambientais, pelo que é necessário diminuir a carga poluente ao máximo, e com isso reforçar o investimento nesta área."
Sabemo-lo bem. Há muitos anos que o rio Noéme está destruído.

"Muitos dos lavadouros existentes na Europa desapareceram precisamente pelos custos elevados com a diminuição da carga poluente. Uma preocupação não tão marcada na China, para onde muitas empresas se deslocalizaram. Outras acabaram mesmo por fechar."
Não sei se ser o único lavadouro em Portugal é necessariamente bom e motivo de orgulho. Não é só na China que a preocupação com rios é menor, em Portugal também.



quinta-feira, 22 de janeiro de 2015

"REA 2014 Portugal - Relatório do Estado do Ambiente", Agência Portuguesa do Ambiente

"O objetivo ambiental da Diretiva Quadro da Água (DQA), e consequentemente da Lei da Água, é o de alcançar, em 2015, o bom estado de todas as massas de água. O recente reconhecimento comunitário da impossibilidade real de conseguir concretizar este objetivo já em 2015, tanto em Portugal como noutros países da união Europeia, protela o alcance desta meta para 2021 e 2027 acompanhado pela adoção de um programa de medidas eficaz, no sentido da continuação da preservação e melhoria das massas de água."

Este parágrafo, retirado da secção "Estado das massas de água" do Relatório do Estado do Ambiente 2014 elaborado pela Agência Portuguesa do Ambiente apresenta a falência do objectivo proposto na Lei da Água. E as previsões também não são melhores pois só daqui a doze(!!!) anos se espera ter todos os rios em bom estado.


E até lá o que vai ser feito em concreto?

Segundo o relatório, "(...) adotar um conjunto de medidas de protecção das massas de água, que farão parte do segundo ciclo de planeamento do PGRH para o período 2016-2021, que passam não só pela redução das cargas afluentes às massas de água, conjugadas com a adoção de várias tipologias de medidas, nomeadamente, de âmbito hidromorfológico (ações de reabilitação e renaturalização de rios e outras de retenção natural da água - green measures) e também pela adoção de medidas relacionadas com o uso eficiente da água conforme patente no roteiro estabelecido pela Comissão Europeia Blueprint, a safeguard to Europe's waters".

Atendendo ao caso concreto do rio Noéme deixo uma pergunta e uma sugestão:

- O que já fizeram em concreto as entidades governamentais (Agência Portuguesa do Ambiente, ARH - Norte) pelo rio Noéme? 

- A sugestão, simples e económica, para melhorar a qualidade da massa de água que o constitui: demolir a conduta que despeja efluentes industriais no rio. 


terça-feira, 20 de janeiro de 2015

Nos 20 anos da morte de Miguel Torga (2)

Luta

Um contra o mundo, é pouco.
Mesmo que seja louco,
É muito pouco ainda.
Mas que pode fazer o homem que endoidece
E se esquece
De medir o poder do seu tamanho?
Ah, se houvesse um fotógrafo no céu
Que filmasse
Uma aventura assim, ridícula e perfeita!
D.Quixote sozinho
A combater as velas do moinho
Que mói, ronceiro, a última colheita.

Miguel Torga

segunda-feira, 19 de janeiro de 2015

Nos 20 anos da morte de Miguel Torga (1)

Conquista

Livre não sou, que nem a própria vida
Mo consente.
Mas a minha aguerrida
Teimosia
É quebrar dia a dia
Um grilhão da corrente.

Livre não sou, mas quero a liberdade.
Trago-a dentro de mim como um destino.
E vão lá desdizer o sonho do menino
Que se afogou, e flutua
Entre nenúfares de serenidade
Depois de ter a lua!

Miguel Torga

domingo, 18 de janeiro de 2015

"As Palavras Interditas", Eugénio de Andrade

Os navios existem, e existe o teu rosto
encostado ao rosto dos navios.
Sem nenhum destino flutuam nas cidades,
partem no vento, regressam nos rios.

Na areia branca, onde o tempo começa,
uma criança passa de costas para o mar.
Anoitece. Não há dúvida, anoitece.
É preciso partir, é preciso ficar.

Os hospitais cobrem-se de cinza.
Ondas de sombra quebram nas esquinas.
Amo-te... E entram pela janela
as primeiras luzes das colinas.

As palavras que te envio são interditas
até, meu amor, pelo halo das searas;
se alguma regressasse, nem já reconhecia
o teu nome nas suas curvas claras.

Dói-me esta água, este ar que se respira,
dói-me esta solidão de pedra escura,
estas mãos nocturnas onde aperto
os meus dias quebrados na cintura.

E a noite cresce apaixonadamente.
Nas suas margens nuas, desoladas,
cada homem tem apenas para dar
um horizonte de cidades bombardeadas.

Eugénio de Andrade

segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

A frase de 2014 sobre o rio Noéme

Em tempo de balanço tardio, elegi esta frase como a que melhor caracteriza o rio Noéme em 2014, proferida à Rádio Altitude: "aquilo é só merda!!!"

quarta-feira, 7 de janeiro de 2015

Trutas

De trutas, dizia Aquilino Ribeiro serem "extraordinários salmonídeos que pediram a casaca aos marqueses de Luís XIV para serem os janotas da água doce". É dito nesta entrevista que há 30 anos o lavadouro não fazia qualquer tipo de tratamento de efluentes e ainda as havia no Côa. Então como hoje.

Pois foi. Esquece-se de referir que foi precisamente nessa altura que morreram todos os peixes do rio Noéme. E como era farto de peixes e de vida o rio Noéme. O meu avô Francisco era o maior pescador do Rochoso e na sua adega não faltavam à mesa, acompanhados de vinho e pimentos curtidos. Há 30 anos atrás começou o calvário do rio Noéme. Até hoje.

Na pré-história do saneamento básico destruíram-se os rios porque o aumento do consumo e a deslocação das pessoas para os meios urbanos  fez com que "(...) todo o esgoto passasse a estar concentrado num único ponto e a descarregar nos rios sem tratamento.", explicou o professor Ramiro Neves numa entrevista publicada aqui em 2011. "O esforço de construção das redes de saneamento e estações de tratamento de resíduos demorou duas gerações a ser concluído. No tempo dos nossos avós não havia poluição nos rios porque não havia canos de esgoto; no tempo dos nossos pais construíram-se as redes de saneamento e poluíram-se os rios; agora estamos a construir ETARs e a despoluir os rios." acrescenta ainda. 

Nessa altura sim, fazia sentido dizer que a Guarda e a sua indústria eram poluidores. Sobre o tratamento de efluentes industrais, ligação às ETAR domésticas e legislação pode ler-se mais na mesma entrevista aqui. O rio Noéme foi durante muito tempo o esgoto da cidade.

sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Cancioneiro

"Fui lavar p'ra ribeira
Cheguei lá sem o sabão
Lavei a roupa com rosas
Ficou-me o cheiro nas mãos"
(Popular)